Encontros imediatos em Lyon
"Tão giro", disse ela. "Vou subir até lá cima para ter uma vista priveligiada sobre a cidade". Aquela coisa parva que todos os turistas fazem quando visitam os sítios, subir ao ponto mais alto para tirar aquelas fotos chatas que depois mostramos aos amigos em intermináveis sessões nocturnas.
Durante quase uma hora, onde devo ter despejado sensivelmente meio volume de tabaco dos meus pulmões, subi à colina do Fourvière, em Lyon, por umas escadinhas intermináveis. Decidida, não parei para descansar e subi, como se não houvesse amanhã. Chegada ao cume, qual João Garcia numa expedição a uma qualquer montanha de nome impronunciável, não coloquei a bandeira tuga, porque me parecia excessivo, mas orgulhei-me de meu feito.
Sorri, de cabelos ao vento e avancei para o parapeito do miradouro, de forma a apreciar o ar puro e a bonita vista da cidade.
As minhas pernas tremiam um bocado, e os gémeos (não os guedes) gritavam baixinho "senta-te, estica as perninhas". Contrariei os músculos e durante exactamente 6 segundos apreciei a vista. Até ser interrompida por um sexagenário predador sexual de dentes de ouro e lenço à Lord Byron, que balbuciou qualquer coisa em francês. "O que é que a menina faz?", "Ah é tão nova para trabalhar!" "quer que lhe mostre o cerco romano?" foram algumas das frases proferidas pelo dito senhor, enquanto ajeitava os seus óculos de massa de fundo de garrafa, com luxúria.
Fugi rapidamente e comecei a andar para descer aquela colina infernal. Numa ruela de escadas, escura e fria, descia a passo rápido, até que uma senhora, também ela idosa e portadora de um buço que faz inveja a muito homem, me pediu para a acompanhar, porque tinha muito medo de cair. Lá fui, trocando impressões com a idosa, a passo de caracol. No final, ainda levei uma beijoca da senhora (que picou como o caralho na minha delicada face).
Hoje não me consigo mexer, como se tivesse praticado o sexo com toda a selecção de basquetebol angolana (ainda bem que não é a de futebol). E não vi grande coisa lá em cima, pois fugi vergonhosamente do idoso de óculos de massa. Não se faz turismo na terra em que trabalha.
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