Friday, July 03, 2009

Pedaços desta Lisboa que eu amo (umas vezes mais que as outras)

Eu vivo em Lisboa há 11 anos, parecerá pouco para os lisboetas de raíz, que vendo bem não são assim tantos entre as pessoas que populam este blogue, mas já representa umas quantas horas de calçada portuguesa, carris e senhores do lixo que insistem em fazer barulho a horas de descanso do bom.Nesta minha vivência de mais de uma década na capital do Portugal cabem muitas coisas boas, como a lembrança, já quase longínqua, do bairro alto até às 04h, as tardes cheias de sol no jardim do Palácio Burnay e o dia-a-dia de uma casa de loucos ao Saldanha, entre tantas outras, mas como o que é giro é escrever sobre coisas que não nos dão assim aquele prazer, gostaria de partilhar convosco algumas das conclusões que tenho tirado ao longo dos anos não apenas sobre o lisboeta mas sim essa espécie bem mais alargada chamada habitante em Lisboa. Começo pela Carris:

- Eu sou daquelas pessoas que se vou de metro para algum lado e não fico à porta (porque pronto o metro, sobretudo o lisboeta, não te deixa perto de nada que tenha subida acentuada nas proximidades), apanho um autocarro para chegar ao destino. É claro que esta tendência aumenta se o destino for no alto de uma das muitas colinas lisboetas, se houver uma descida pelo meio, sou capaz de me deixar rebolar sem pedir a ajuda dos amarelinhos. De qualquer das formas, isto tudo é para explicar que sou pessoa que anda nas carreiras da Carris de há uns 10 anos a esta parte e isso pronto, não abona em favor de ninguém, mas dá para perceber um pouco da psique da massa humana desta cidade. Como por exemplo já dá para afirmar com algum rigor científico que, como toda a gente sabe, os autocarros são dominados por velhotes, geração pela qual tenho muito respeito, mas que só atrapalham a vida de uma pessoa. E depois também são os que mais protestam como se tivessem horários que cumprir na sua ida à farmácia ou à mercearia, ou de assentar o rabo enrugado num banco de jardim. Enfim.

Outra das coisas que me faz uma certa confusão é a insistência das pessoas em sentarem-se no banco do lado de fora. Não percebo bem se elas não se querem levantar para dar a passagem, porque julgam que conseguem intimidar com o olhar quem se quer sentar, o que nunca acontece e leva pelo menos a que se levantem várias vezes ou se preferem levar com a nalga da outra pessoa no nariz repetidas vezes. Também há a possibilidade de estarem a tentar poupar no ginásio com tanto levantar e sentar, para combater a prostituta da celulite. Sim, porque pr'aí 90% das pessoas que se sentam no lado de fora nas carreiras, são mulheres.

Toda a gente tem sempre muita pressa quando quer sair do amarelinho. Não respeitam quem está prestes a conquistar o seu lugar na fila para sair. Lá tens de dar um encontrãozinho para ganhar a posição ou passar à frente de mais um velhote, que inevitavelmente vai-te empurrar até pousares o pé na calçada. Qualquer lei pacifista cai por terra nestas alturas. Tornas-te um guerreiro do mais alto gabarito do safanão nestes momentos.

Depois há os condutores da Carris, que ainda não atingiram o nível de besta absoluta dos taxistas mas andam a roçar-lhes as meias brancas dos calcanhares. Quantas vezes não páram nas paragens só porque lhes apetece e depois têm a lata de dizer 'ah, não carregou'. Lá vai a velhota a arrastar-se mais uma paragem com a hérnia a palpitar. E há também o modo como fazem as curvas quando têm o tocarro a abarrotar de malta trabalhadora e mal cheirosa. E pronto, lá vais bater em cheio no tipo com pior aspecto do joint.

Há sempre a questão dos horários e aquele lei macaca que dita sempre que se perdes o tocarro que te põe no trabalho à hora certinha a que queres chegar, estás mais vinte minutos à espera. É contra as pessoas que se recusam a dar horas à casa a Carris.

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