Viagem a um outro tempo
Qualquer fim de semana prolongado é tempo de migrações. É vê-las às mantas e toalhas, em excessiva convivência com as pessoas que já são a mais para os carros apinhados na viagem à santa terrinha. Lá vem o mais belo e forte galo ou coelho já esfolado e temperado a perfurmar o percurso duma qualquer autoestrada para a visita aos familiares que estão na cidade e trabalham na sexta-feira santa. Abrem-se gavetas e armários na procura das t-shirts de alças, do calção ou do paréu e claro do biqueni porque eles disseram que iam fazer para aí duas horas de sol durante todo o fim de semana. Enfim, é um rodopio de falares e coisas tipicamente ligadas ao chamado dolce fare niente.
Mas de todos estes acontecimentos, que em tudo contribuem para sermos este país simpático e sociável, há um que gosto particularmente porque sou uma adepta praticante. Falo da movimentação massiva das ovelhas tresmalhadas e ainda em idade pós-adolescente de qualquer terra fora dos grandes centros. É algo inexplicavelmente parecido a um tempo fora do tempo.
Em VRSA que é o meu ponto de partida, percebe-se que estamos numa destas épocas quando nos cafés e esplanadas habituais ouvem-se exclamações de surpresa, cumprimentos não direccionados e o tilintar de garrafas como uma improvisada banda sonora. À volta das mesas, os mesmos grupos de desde sempre. Ninguém diria que estão sujeitos às intermitências da passagem do tempo. Toda a gente fala com toda a gente. Raras vezes há enganos ou esquecimentos nos nomes.
É quase como se uma invisível capa de descontracção e confiança nos envolvesse a todos. E apesar da coisa pecar pela falta de privacidade, opinião ou desconhecimento, que um pouco de mistério também é bom para a convivência, a verdade é que voltamos para a vida de todos os dias com a sensação de termos estado não só fora como por fora uns momentos.
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