Nem tudo o que é verde... é Pachanga! (ou Conto Travesti em III Actos)
ACTO I
- Três da Manhã, na Rua do Conde Redondo em Lisboa...
Começava assim a reportagem. E assim começou também um mês de estranhas "coincidências" que me fizeram entrar no submundo da pluma e da lantejoula.
Mas estes travestis do Conde Redondo estavam bem longe das luzes dos palcos.
Estava frio. Elas de mini-saias e tops... o produto tem de estar à vista se quiser ser comprado.
Abrigadas pelas paragens de autocarros, algumas convidaram-me a sentar (o que deixou as minhas protectoras - porque ninguém vai sozinho de madrugada para o Conde Redondo, não é?- em alerta e as fez deixar por momentos os seus donuts e cafés starbucks imaginários a arrefecer, preocupadas que estavam com a minha integridade física).
Mas não foi necessária tanta preocupção:
-"Olha Amor, senta aqui! Onde é que está a câmara? Ah... é para rádio... para a próxima tens de trazer a câmara!"
-"Olha Amor, a gente faz isto pelo dinheiro, não é?! Mas também porque gosta..."
Junte-se a fome à vontade de comer, como explicaria a socióloga, e aí os/as temos... futura vizinhança para os anos que se aproximam (porque ninguém se lembra de comprar casa no Conde Redondo, não é?)
ACTO II
- Isa Ranieri & Claudia Ness -
- Isa Ranieri & Claudia Ness -
Na margem sul. A caminho da Costa, à noite. Avistam-se umas luzes verdes do lado esquerdo da estrada... Será um meeting Pachanga?! Estarão elas a visionar o Dirty Dancing todas juntas pela 3ª vez?!
Desenganem-se os mais ingénuos, pois do outro lado da estrada fica uma casa de performances nocturnas - não sei que outro nome lhe dar, confesso... talvez, Mr.Gay, por ser esse o nome da casa (Mister, para os amigos e clientes frequentes).
Ainda me custa discorrer sobre o assunto.
Fui. Animada pela reportagem sobre o travestismo de rua e em busca de conhecer o outro lado... o tal, das plumas e das lantejoulas!
Ali, sentada na mesa dos convidados de Isa Ranieri (Carlos, para os amigos) tive o privilégio de assitir a um dos melhores shows de travestis do pais e arredores (ouvi dizer..., disseram-me... que eu, sozinha, não chegava lá!)
E era vê-las bailar... Isa Ranieri, Cláudia Ness... e outros nomes exóticos a fazer lembrar as monarquias e o principado do Mónaco que o meu cérebro não teve a oportunidade de fixar.
Ora em performances de grupo, estilo Carmen Miranda ou Marinheiros acabados de desembarcar; ora a solo, abrindo e fechando as suas bocas delineadas com 5cm de lápis para os lábios, tentando acompanhar a música e a letra de grandes divas como Celine Dion e Kelly Clarkson - because of you, trá-lá-lá... popxuáré-popxuáré...
Eis senão quando, entra um esbelto rapaz vestido de preto e uma elegante rapariga vestida de cor-de-rosa...
-Não, não podia ser... seria?! Não, não...
Mas era. O climax... a loucura... a audácia. Era a versão travesti de I Had The Time of My Life!!! Sim, e ele era o Johnny Castle Gay e ela/ele era a Baby Travesti!!!
Filme que é filme tem direito a uma performance de travestis baseada nele!! E Mai Nada!!!
E bailei. Apetecia-me saltar para o meio da pista/palco e dançar com eles, até mesmo cantar aquela música ao estilo de uma boa novela venezuelana dobrada para brasileiro.
A partir daí, quase que se tornou fácil não me sentir deslocada... quase consegui ir à casa-de-banho sozinha e não ser assediada por Cristininhas Camionistas em mangas de camisa... quase não vi homens de saias... quase não tive depedir desculpa por ter dado um pequeno encontrão a um gajo... quase me consegui sentir mais mulher do que alguns homens que ali estavam!
A partir da 5ª imperial já tudo começa a parecer perfeitamente natural, é um facto!
ACTO III
- Centralino -
Centralino. Em Turim. A tão anunciada discoteca gay, a que a nossa amiga emigrante temporária fazia questão de nos levar (até porque era fácil entrar, "porque somos gaijas"!)
Lá fomos. A música era má, muito má... o speaker era mau, muito mau... mas lá aguentámos para ver o show de travestis que, como se adivinhava, seria mau, muito mau...
Umas aguentaram mais do que outras, também é um facto!
Tudo só porque não quisemos imitar os locais que, perante a proibição de se fumar, parecem enveredar por substâncias de mais fácil inspiração.
Uma, com dor de cabeça, já se arrastava pelos cantos; outras com dores de costas, que a idade não perdoa... mas todas a defender com unhas e dentes o seu lugar com vista privilegiada para o show de travestis ao som dos mais recentes êxitos de Madonna e que umas pitas italianas teimavam em roubar!!
Infelizmente (tom jocoso e condescendente...) o meu relato sobre esta noite numa discoteca pseudo-gay termina aqui.
A vontade de ir à casa-de-banho (que depressa me passou quando lá cheguei!) fez-me desviar caminho e acabei por descobrir um bar a céu aberto nas traseiras da discoteca em que se podia fumar... vi-me assim impossibilitada de ver o show dos dois travestis vestidos de cor-de-rosa. Schuiff. Versão oficial para as minhas amigas.
Na verdade, não sei se teria aguentado ver dois "shows" de travestis no mesmo mês... paciência tem limites, não é?
2 Comments:
Pois é. Folgo em ver que outras e queridas pachangas voltaram a dar alguma animação a este quase defunto espaço. Finalmente ficámos ao corrente das aventuras catarinas e seus travecas e baratas amestrados. Quanto a mim minhas caras pouco tenho a dizer além de que os pés partidos estão na moda, mas não se recomendam. Se alguém quiser visitar-me estarei pelos algarves até para a semana. Beijos.
Miúda!!!!!! TU ÉS UM MÁXIMO!!!
Beijos grandes e até breve, nesse tão esperado jantar, sob o céu de Alcântara :)
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