Friday, June 24, 2005

O conto completo

Amigos e Amigas, aqui está finalmente o fantástico conto erótico da pachanga em três actos, feitos pelos gentis amigos le fante, comboio azul e proletário. Fica a vosso cargo enviar ainda mais contos, que possam concorrer devidamente com estas pérolas literárias.

O Relojoeiro Coxo - Um conto erótico
Acto I
Vivia ali para os lados de S. Domingos de Rana, zona velha, junto à estrada que liga a auto-estrada ao interior de Cascais, que depois fica quase Sintra, um relojoeiro, reformado antecipadamente, fruto de um acidente com um instrumento de precisão, vulgo chave philips, que o deixou coxo da perna esquerda. Ainda que em nada influenciasse a sua actividade, a assistente social afiançou-lhe que a providência nada oporia à sua aposentação, e o chefe nada de mal viu nisso, dado que o Sabrosa, assim se chamava, nem era grande artesão.Apesar de terra pequena, S. Domingos de Rana tem placa na A5 e, mais ainda, é local de passagem de praticamente todos os autocarros - camionetas, assim preferem chamar-lhes as gentes da linha - da região Oeiras/Cascais. É numa dessas carreiras que Sabrosa se apercebe da bela motorista Rosa de Alferes, rapariga de formas perversamente tornadas, uns bons quinze anos mais nova que o antigo relojoeiro, e que sempre tão gentilmente se lhe oferecia para picar o bilhete, enquanto Sabrosa se sentava no lugar junto à porta, de onde observava, ora o tornozelo poderoso que controlava através dos pedais o gigante de passageiros, ora o seio direito voluptuoso em tensão, sempre que girava o volante ao contornar uma rotunda, ora o perfil delicado sempre que levantava a cabeça para olhar pelo retrovisor a controlar a mitra dos subúrbios.Já metia conversa com Rosa de Alferes vai para cerca de sete meses, e a sua mente não sossegava de o inquietar com todo o tipo de fantasias ali mesmo dentro daquele transporte público.[Fim do Acto I - Passo então a coisa ao Comboio Azul, caso aceite. Senão cá volto.]
Le Fante

Comboio Azul disse...
Acto II
nfelizmente a conversa que metia não passava de um ocasional e inepto "Lindo dia, não?" ou um "Era um para Massamá, fachavor". Não havia nada em Massamá, mas pelo menos tinha mais tempo para apreciar os atributos da sua musa. Por entre travagens bruscas e arranques vigorosos, podia dar azo à sua imaginação, quebrada apenas aquando de um ou outro empurrão ou canelada que recebia por parte de passageiros que embarcavam e desmbarcavam num fluxo contínuo, um vai e vem que fazia lembrar a força da maré sob os efeitos da Lua.O antigo relojoeiro passava toda a viagem numa dualidade de espírito que fazia lembrar os mais severos casos de múltipla personalidade, embora se comportasse como um obsessivo-compulsivo com a sua rotina diária e tivesse a sensação, tipicamente narcisista, de extrema lucidez. Em suma, estava nitidamente a piorar a sua já precária saúde mental, sendo a pista mais óbvia o ter começado a pensar que estava a melhorar.Sabrosa conseguia aliar a observação metódica dos movimentos corporais da sua bela Rosa com fantasias extravagantes de jantares luxuosos em bistrots franceses à luz de velas. Faisões com molho de lima regados a Veuve Cliquot 1956, salada de alcaparras e rúcula, sorvete de pétalas de rosa, seguidos de um momento de dança ao som dos violinistas húngaros que compunham a orquestra do restaurante que se transformava em salão de baile, no qual apenas eles rodopiavam sem fim. Porém, a viagem terminava sempre na altura em que, após alguns copos de champagne num esplêndido terraço sob a Lua com vista para uma miríade de fontes iluminadas e estátuas de deuses gregos, decidiam declarar o seu amor eterno e partir em direcção ao palácio onde passariam a noite.Desta vez, porém, a fantasia ainda não tinha tido tempo de se começar a desenrolar e já Sabrosa acordava do seu semi-torpor: A belíssima Rosa de Alferes, acabada de evitar in extremis um acidente de viação de proporções talvez calamitosas, não se conteve e berrou para fora da janela uma série de impropérios que fariam corar um marujo. Ainda exaltada, reparou em Sabrosa, que a fitava, e atirou-lhe: "E tu, ó meu bardamerdas, estás a olhar para onde? Queres-me comer ou quê?", ao que ele, sem pestanejar, respondeu "Sim, quero."Rosa ficou abismada. Nunca na sua vida sofrida tinha ouvido algo dito com tanta sinceridade. Sentiu os joelhos a tremer, uma nova e estranha sensação no estômago, os olhos a lacrimejarem e um aperto na garganta enquanto tentava dizer:- E como te chamas, meu amor?

proletario disse...
Acto III
“Chama-me Romeu, o teu amo sou eu”. A frase bacoca fica a dez anos luz do que veio a seguir. A buzina não se calou durante 34 minutos e cinco centésimos. O tempo de chegar a brigada. A cassetete. A cassete do Dino Meira no rádio da bófia a contagiar os passageiros aturdidos pelo vaivém no banco da frente. O seio da Rosa no ventre do Sabrosa. Chamaram-lhe Simão. Extremo esquerdo de Cupido. Os corpos flácidos aproximam-se. O Luís fardado deixa cair o coldre . Aponta para a indefesa Cornélia, aturdida pelo passe viciado escondido no bolso que a a deixa sem argumentos perante a autoridade. Ajoelha-se. O Arnaldo, viúvo septuagenário, retira discretamente a dentadura e diz à vizinha Alcina, companheira no nojo: “É hoje”. O alcatrão vacila. As duas faixas de rodagem conquistam a terceira, ainda em construção. Um grito colectivo sublinha o clímax dos três casais. Sabrosa acorda - minutos feitos horas depois - do torpor orgiástico. Olha para o relógio. Foda-se, querem ver que não chego aos correios a tempo de receber a pensão?

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