Monday, January 09, 2006

O que o Portuga sabe

Costuma-se dizer que o Português é pouco formado e não sabe nada de nada, mas vejamos:

- há sempre um que percebe logo que o barulho que o teu carro anda à fazer há meses tem que ver com o carburador ou com a anilha do não sei o quê e que isso é coisa para demorar semanas a arranjar, o que o faz lembrar daquela vez que foi a Santa Combadão de Baixo e o carro parou...
- existem velhotas que vivem em farmácias e que imediatamente encontram a doença para qualquer dos sintomas que apresentes, bem como as respectivas soluções
- aparece amiúde alguém que te explica detalhadamente como fugir ao fisco aqui e ganhares mais juros ali, apontando casos de sucesso que nunca são o dele, de terceiros com 500 euros de rendimento mensal que conduzem BMW’s ou Mercedes e têm casas em condomínios com nome de Quintas
- há em todo o lado uma Dona Maria que conhece uma que é prima de outra que tratou das unhas da mulher do advogado do Sr tal e sabe, porque lhe disseram em primeira mão, que aquilo que apareceu na revista é verdade verdadinha
- outro que tem um tio que trata da contabilidade num Ministério e por isso é com ele que é preciso ter uma palavrinha para se construir um Hotel de Luxo ou um Challet de férias em sítios tão in como o Parque Natural da Serra da Arrábida ou as Dunas do Sotavento Algarvio
- aos fim de semana o mais comum do homem português (e ocasionalmente mulher) transforma-se num recipiente de sapiência futebolística, bem melhor que qualquer treinador, mesmo que este tenha sido jogador mais de quinze anos ou tenha ganho tudo o que há para ganhar entre o Torneio de Futebol de Cinco Sub-15 de São João da Pesqueira e a Liga dos Campeões, com a excepção se se chamar Mourinho, usar sempre a mesma roupa e não abrir muito os lábios quando fala, uma espécie de Clint Eastwood de Setúbal num filme inglês
- todos sabemos com quem é preciso falar para ter uma caixinha maravilha que nos custa poucos eros e nos dá acesso a todos aqueles canais que até nem são nada de especial mas que queremos ter porque estão codificados
- é raro o Sô Zé ou a D. Ana que não saiba qual o restaurante que está na moda ou a servir melhor e que te faz o relatório completo desde as entradas ao visque final apenas interrompido pelas queixas sobre o preço dos rabanetes ou do azeite na fila do supermercado
- por fim, e para não se falar em atraso tecnológico, é fácil encontrar alguém, sobretudo mais novo, que te consegue resolver em menos de um minuto aquela chatice do telemóvel que apita quando não deve, mesmo que seja o último modelo importado directamente da Finlândia. E não só o teu, como o da irmã, do pai, do tio, da prima...

E como estes existem milhares de exemplos da Sabedoria Lusa. Isso de estarmos na cauda da Europa é por abanarmos quando felizes e enrolarmos no resto do tempo.

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