Adaptação Desesperada
Já que estão na moda as adaptações, porque não a versão à portuga de outro seriado virado para o gajedo, que até tem um título bastante aplicável à mulher lusa? Estas poderiam ser as seis personagens principais:
Susana Aurélia- Divorciada de 39 anos. Ganhou muito peso depois de saber que o marido a tinha traído com uma loira de 1,80m, que mais tarde se veio a descobrir já ter sido um moreno de 1,80m. Perdeu os quilos a mais à custa de muito exercício, mas vive obcecada com as estrias e a celulite por isso divide o seu tempo entre besuntar-se de cremes e andar com a prima Claudette, que tem 56 anos e vive atormentada por uma hérnia discal.
Neurótica q.b. tem uma filha de 17 anos, sobre a qual diz a quem quiser ouvir que são as melhores amigas. Com tanta proximidade é estranho que desconheça que a filha já fez um aborto, saiu da escola e planeia ir viver com o Zé, que trabalha num call center na cidade e vive com o irmão, a mulher do irmão e os seus três filhos numa casa com 2 assoalhadas
Lisete Maria- Com 40 anos e muito bem casada com o seu namorado de infância, esta brilhante estudante de Contabilidade, deixou para trás uma vida de sucesso após sucesso no mundo fiscal para se dedicar à família. Com quatro filhos e uma hipoteca a 50 anos, Lisete é uma mulher conformada. Divide o seu tempo entre limpar, lavar e ralhar, gerindo a casa com o punho de ferro que caracterizava a sua performance profissional.
Com tanto tempo ocupado, descuidou um pouco a sua imagem sendo vista frequentemente a usar fato de treino e ocasionalmente sem o buço feito.
O seu maior (e único) divertimento é transformar as tarefas diárias em haveres e deveres, contribuições e deduções. Assim uma actividade simples como lavar a loiça transforma-se num quadro contabilistico, donde frequentemente resultam ganhos e perdas como um copo, um garfo ou um esfregão.
Gabriela Carolina- A mais nova das seis amigas, tem 37 anos. De descendência cabo-verdiana, a sua cor de pele está entre o castanho amêndoa e o dourado. Herdou da mãe as formas curvilíneas e um extraordinário jeito para a dança. É bonita, sabe-o e usa-o. Está casada há três anos com o maior dealer do bairro, mas finge não o saber. Ele nunca escondeu a riqueza súbita. É visto frequentemente ao volante do seu Mercedes SLK amarelo e inconfundível, sobretudo pela Nossa Senhora de Fátima em neon que pisca no vidro detrás.
Gabriela mantém uma relação extraconjugal com o João, que conheceu no dia em que lhe foi instalar a ADSL. É uma visitante assídua do Vai-te Pneu Vai-te, o ginásio do Bairro, para grande desespero do dono, um gigante de 100 quilos só de pernas, que passa a vida a choramingar porque ela não lhe liga nenhuma.
Brisete Constança- Com 40 anos e casada com um ginecologista, esta filha de boas famílias que cresceu no Restelo e acabou a morar na Reboleira, é a dona de casa perfeita. Toda a gente lhe reconhece a arte do seu Cozido, do seu Bacalhau à Mil Diabos ou do seu Arroz Doce. Ultimamente tem feito sucesso com os seus pãezinhos em forma de telemóvel de terceira geração. Tem dois filhos adolescentes, mas não consegue comunicar com nenhum dos dois. Não compreende que a filha se vista como uma prostituta e que ande pelos cantos a suspirar Ai Dessert ou Quero os Morangos com Açúcar e depois diga que está de dieta. Com o filho, simplesmente ultrapassa-lhe ele fechar-se no quarto em frente ao computador a queimar incenso e estar sempre a dizer que vai à rua comprar papéis quando ela nunca o vê a escrever.
Nos últimos tempos desenvolveu uma patologia nunca antes vista que consiste em comprar compulsivamente revistas Maria, tirar-lhes a capa, cobri-las em naperons, fechá-las com ponto cruz e guardá-las por cores em caixas de madrepérola com motivos incas Made in China.
Eduardina Andreia- Esta viúva de 41 anos começou a ganhar a vida como cabeleireira com apenas 15 anos. Aos 21 tinha o seu próprio salão e o recorde inultrapassável de 4534 mises e 9300 brushings. A cor original do seu cabelo é um mistério insondável. Com 25 anos e na fase ruiva casou-se com o seu gestor de conta. Com 28 e na fase morena divorciou-se e voltou a casar desta vez com o seu advogado. Separou-se ao fim de 3 anos e um mês depois passou a loira e a Senhora Rodrigues, esposa dum respeitável construtor civil. Deixou de trabalhar só que passado um ano o marido morreu de ataque cardíaco e deixou-a só com uma herança calculada em acções da Cimpor, terrenos expropriados na Ota, um condomínio em Estombar e uma colecção incomparável de anéis de ouro para pôr no dedo mínimo. Desde aí não voltou a casar nem a mudar a cor do cabelo.
É conhecida na vizinhança como fácil e oferecida, tal a quantidade de homens que frequentam a sua casa. Nunca se deu ao trabalho de desmentir os boatos, mas a verdade é que teve tantas dívidas para pagar depois do marido morrer, que agora ganha a vida a como conselheira sentimental, e ocasionalmente pedicure, de homens com mais de 50 anos com dúvidas sobre a sua sexualidade
Marie Alice- Cresceu nos subúrbios de Paris, donde saiu para viver com o marido polícia nos subúrbios de Lisboa. Tem um filho com 16 anos que conseguiu a proeza de em menos de quatro anos ser expulso da Escola Militar, ser chefe de um gang, ter atropelado um velhote quando conduzia sem carta, estar internado no Júlio de Matos e ter visto todos os concertos dos Ratos do Porão em Lisboa e arredores.
Viciada em Xanax, telenovelas e promos da SIC Mulher, Marie Alice faleceu recentemente quando a correr para ver o Goucha tropeçou na cabeça do urso que serve de tapete da entrada, foi embater na porta do armário onde o marido guarda os casacos, fazendo com que um deles caísse e a arma com ele, que ao embater no chão disparou e lhe acertou pertíssimo da jugular, mas não o suficiente para morrer no momento. Ainda conseguiu chegar ao telefone e telefonar para o 112 mas era dia de greve e estava tudo a protestar lá para os lados do Terreiro do Paço, restando uma funcionária que nesse preciso momento tinha ido à casa de banho porque tinha exagerado na delícia gelada de kiwi nos anos do sobrinho no dia anterior. Arrastando-se com extrema dificuldade pelo corredor forrado a alcatifa, Marie Alice atingiu a porta da entrada mas não a conseguiu abrir porque estava perra desde a inundação que houve no andar de cima. Sufocando e sem forças, morreu como se estivesse prestes a abraçar alguém invisível. Para a família e amigos a posição da falecida é a derradeira prova do suicídio, mostrando que mesmo no seu momento mais desesperado Marie, não deixou de prestar homenagem à sua cantora preferida, a grande Amália Rodrigues
1 Comments:
Alguma coisa contra as prestações a 50 anos?!? Hein?
Não gostei...
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