Rock In Cromolândia
Eu não queria chamar ao evento onde estive enfiada o passado fim de semana uma coisa assustadora, mas não consigo encontrar palavra melhor depois de tudo o que passou pelos meus olhos e ouvidos nesses dois dias do demo.
O Rock In Rio foi uma ideia de génio de um senhor que parece uma versão mais straight (e daí!!!) do Karl Lagerfeld, e que consistiu basicamente em transformar um festival como os outros, perdão, pior que os outros, num acontecimento à escala global. Bem, global, global não será, vista a pouca importância que a imprensa da especialidade no estrangeiro deu à coisa, com a excepção óbvia do fraco regresso aos palcos da bêbada a rebentar de talento mais conhecida do momento. No meio disto tudo, o sósia foleiro do Lagerfeld descobriu um belo filão de fazer massaroca. E isso até nem nos chateava muito, que há gente no mundo a fazer dinheiro com coisas bem piores. O problema é que aquela coisa tinha que nos vir cair no colo. Nem sei porque me espanto, tal é a nossa tendência para bater palmas a tudo o que tenha o condão de juntar a cromice à megalomania.
Enfim, agora temos de levar com a coisa de dois em dois anos. Ele é as suas causas 'sociais', começando pelos bilhetes àquele preço no meio de um bairro social, ele é a sua área VIP, um pavilhão gigantesco a meio do recinto onde gente que ninguém conhece de lado nenhum passa o dia a beber cocktails servidos por pequenas anoas mamalhudas e a ver os concertos de binóculos, enquanto falam das suas (muito) interessantes vidas, ele é os espaços dedicados aos patrocinadores serem maiores que uma coisa básica como a sala de imprensa, onde centenas de repórters e fotógrafos se aglomeram como podem e esperam pelos restos da zona VIP, para poderem jantar... Ele é o que se poderia chamar de... deixa ver... uhm... hipocrisia será?
Mas o melhor disto tudo é quem lá vai parar. Quem pagou os 53 euros ou ganhou o bilhete no banco, no stand de automóveis, a mandar sms até lhe cairem os dedos, a fazer um number 2 brilhante na sua casa de banho... seja como for, é incrivel ver como é que se pode juntar tanta foleirice num só sitio. A sério, eu já tinha ouvido que era possível, mas testemunhar é muito melhor.
No Rock In Rio há pessoas várias horas numa fila para apanhar um cadeirão insuflável que vão ter que carregar durante todo o tempo que por lá passearem, podem ver-se homens feitos ou mulheres que ultrapassam a centena de quilos com bóias em forma de patinho à cintura, o que dá uma jeitassa em sítios apertados, têm-se desagradáveis encontros imediatos com pais que ainda conseguem ser mais mal educados que as criancinhas, há miúdos de 14 anos a comerem-se durante todos os 'Jardins Proibidos' do Paulo Gonzo, mulheres histéricas que não sabem beber cerveja, não têm frio e que gritam EMMY em vez de AMY, durante vezes sem conta ao teu ouvido, bem, e a lista podia continuar, se eu estivesse mais inspirada, ou se não tivesse fugido de concertos vindos directamente da cromolândia, como o de Lenny Kravitz e Rod Stewart.
Chamem-me uma pequena elitista, não há problema nenhum, porque é isso mesmo que sou. Pela Bela Vista tem passado o país que temos sido. Nem mais nem menos. E eu nem sei bem o que pensar sobre isso... É caso para dizer Por Um Mundo Melhor o orgão sexual masculino!!!
1 Comments:
Tinha ouvido algo sobre esse festival.
passo a citar:
-Foi fixe?
-Foi altamente!!
-Que mais curtiste?
-Sei lá, os concertos!
Foi a melhor critica que já vi ao festival, a tua claro. Não é um sitio onde queira ir...
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