Deste país que nos deixaram
Fui ver o Alice. E digo isto com toda a pompa e circunstância com que diria que fui ver os últimos do Von Trier ou do Jim Jarmush, só para fazer referência a dois dos filmes mais esperados do ano. Pelo menos os meus. Confesso que não sou uma espectadora regular do cinema português, devo padecer do mesmo preconceito que a maior parte do público tem em relação ao que é feito por cá e a verdade é que durante todo o filme não me consegui desligar deste sentimento. E o que foi curioso é que a maior parte do tempo foi a pensar porque é que tem que ser assim.
O cinema português não é igual ao que se faz nos outros sítios. Isso já todos sabemos. A discussão sobre este tema é tão antiga que já só se fala com axiomas. Para uns dizem que não se pode mudar porque tem que se manter a pureza, para outros há tanto a mudar que se cai na banalidade. E andamos nisto há demasiado tempo. É por isso que de vez em quando é bom apareceram pequenas obras que venham agitar um pouco as consciências.
Alice é um filme triste, mas é também um filme de imagens bonitas. História não tem muita é verdade, mas tem excelentes actores, uma fotografia intrigante e um conceito de banda sonora, o que para mim já é novidade. Se das dez longas metragens que se fazem por ano em Portugal, três tivessem tanta gente na sala como aquela sessão ao final da tarde a que fui, já nos podíamos dar por contentes.
Somos de facto um país de contrastes, disso não há dúvida. No mesmo e pequeno espaço convivem Manoel de Oliveira e a 1ª Companhia, o Jornal das Letras e a Maria ou o Carlos Bica e o Toy. Mas lá no meio estão o João Canijo, está a Visão, está o Jorge Palma, o Fausto, estão tantos outros. E há uma imensa minoria que gosta destas coisas boas. Com uma exigência q.b. que não deixa que o bolo fique demasiado mole, mas também não gosta dele maçudo. É este público que tem que nos fazer gostar cada vez mais das nossas coisas. De acreditar nelas, para não ser preciso elas ganharem prémios lá fora para serem vistas ou compradas.
Foi tudo isto que me passou pela cabeça depois de ver o Alice. Com ataque de nacionalismo ou não, a verdade é que saí do filme e fui comprar o novo disco dos Clã. E tanta coisa boa que ele tem.
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