Wednesday, December 27, 2006

Conto de Consoada

I
Há dois anos tudo corria bem na noite de consoada...
O bacalhau era com natas, os presentes ainda deixavam espaço para sair a criança de dentro de mim enquanto recebia de braços abertos um pijama ou o célebre e tradicional envelope de Natal. Éramos quatro: eu, os pais e a avó de Lisboa.
Pouco depois da meia-noite, quando os poucos presentes já estavam todos desembrulhados e se tinha esgotado o assunto de conversa sobre a restante família que estava espalhada por esse Portugal (com especial concentração ali na região Oeste)... a conversa, já animada pelo whisky que a minha avó teima em beber porque ajuda a "desmoer", que eu digo que não quero beber (porque eu não bebo!) mas acabo sempre por beber e que o meu pai bebe, porque sim... começa a descambar!
- "Ai filha, que a avó não gosta nada de te ver com o cabelo assim..."
Mau! Deixa lá ver, pode ser que ela mude de conversa...
-"Mas o que é que te deu para cortares o cabelo assim? Pareces um rapazinho..."
Duplo mau! Deu o mote e agora vai desenvolver...
-"Deixa crescer o cabelo que a avó não gosta nada de te ver assim..."
Mau, mau...
Reminder: nunca mais oferecer uma garrafa de whisky à avó pelo Natal!

II

Noite de Consoada e 2º dia consecutivo em casa com os pais.
O bacalhau continua a ter natas. Os presentes são agora electrodomésticos com nomes esquisitos como varinha mágica e secador de cabelo. O envelope é tradicional e vem com o recheio habitual.
Somos quatro: eu, os pais e a avó de Lisboa.
Pouco depois da meia-noite, quando os poucos presentes já estavam todos desembrulhados e se tinha esgotado o assunto de conversa sobre a restante família que estava espalhada por esse Portugal (ainda com especial concentração ali na região Oeste)... a conversa, já animada pelo whisky que a minha avó teima em beber porque ajuda a "desmoer", que eu digo que não quero beber (porque eu não bebo!) mas acabo sempre por beber e que o meu pai bebe, porque sim... começa a descambar!
-"Ai filha, que a avó não está nada a imaginar-te como dona-de-casa..."
Mau. Deixa lá ver, pode ser que ela mude de conversa...
-"Não sei, mas o que é que te deu para comprares uma casa?..."
Duplo mau! Deu o mote e agora vai desenvolver...
-"Ainda por cima solteira..."
Mau, mau...

Reminder: oferecer um whisky com Xanax à avó pelo Natal!

Saturday, December 23, 2006

Um clássico

Thursday, December 21, 2006

Pacharguida

A minha primeira experiência com a justiça até que nem foi má. Fui à GNR de Sintra, para ser constituída arguida e para que me fosse aplicado o termo de identidade e residência, no âmbito de um processo de uma determinada senhora que não revelarei o nome, mas que posso adiantar ser socialista, ex-presidente de uma câmara e ter a mania que ela é a única pessoa que fala bem português.
Chegada ao local, fui recebida por polícias bomzinhos e simpáticos, que me trataram bem e com quem mantive uma cordial conversa.
O Natal dos Hospitais estava a ser transmitido pela televisão e Marco Paulo cantava "nossa senhora me dê a mão, cuide do meu coração". A melodia foi seguida pelos guardas, que trauteavam as notas do hit de João Simão. Fui chamada para prestar declarações numa sala com uma parede falsa, onde se podiam ouvir as conversas dos muitos senhores agentes da autoridade que trabalhavam no compartimento ao lado. Enquanto respondia às perguntas feitas pelo Cabo B. (ou sargento, whatever), a minha atenção ía para as conversas mantidas na outra sala, de onde saíam sonoros FODA-SE, CARALHO ou mesmo coisas como "O GAJO TAVA TODO FODIDO COMIGO, O CABRÃO...", ditas com sotaque da Ribeira do Porto. O senhor guarda (que estava vestido à civil) pediu desculpas pela línguagem menos própria dos colegas, justificando que ali "são quase todos homens". E aí, eu pensei: " Ele nunca foi a um encontro ou jantar pachanga... Ele nunca gritou PICHOTA ou FNOC (FNOQUE, pronto) em ruas estrangeiras. Ele nunca disse CONA ou PINTELHEIRA repetidamente, só para irritar uma querida amiga..."

Como se diz em estrangeiro, pardon my french. É Natal e as músicas sobre renas cantadas pela Diana Krall despertam o pior que há em mim.

2006 sucks!

23 e 53. A trabalhar desde as 10 da manhã. Eis senão quando aparece alguém e diz que do trabalho feito, apenas se aproveita um cagagésimo, porque "não há espaço". O meu estômago morreu entretanto e o cérebro entrou em auto-destruição. Chiça, bolas, irra, livra. Como eu gostava de ter sido veterinária.

Monday, December 18, 2006

Jamaica

Há 5 anos atrás, numa terça-feira à noite, no Cais do Sodré, eu estaria provavelmente bêbada, a dançar de forma esquisita, a meter-me com as pessoas.
Em 2006, é verdade que eu estava numa 3a feira no Jamaica, mas nem por isso estava com os copos ou a fazer figuras tristes (embora alguns chefes tenham captado atenção dos presentes pelas danças arrojadas).
Jamaica numa noite de reggae, jantar da redacção, algum alcool (é um facto). Bailando numa pista vazia, eis que entram dois amigos que eu não via há prái dois anos. Um amiguito da terra, que em tempos foi grande camarada de copos e regabofes por este país a fora. “Eh pá, o que é que tás aqui a fazer???”. “Agora vives em Lisboa, já sei”. “E o teu puto?”, pergunto eu. E ele, num momento de ternura extrema, de amor de pai, saca da carteira e de algumas 200 fotos do miúdo (por sinal, adorável e lindo). Ali estava eu, ao balcão do Jamaica a ver fotos de criança e ouvir as proezas do pequenote. Foda-se, que estamos mesmo crescidos…