Houve uns tipos, claramente dementes, que decidiram lá nos confins da humanidade que o povo tinha de ganhar a vida a encher os bolsos de meia dúzia de indivíduos viciados em massa. E se formos bem a ver, fora umas quantas quecas, uma ou outra desilusão amorosa, a escrita de um livro para uns, a plantação de uma árvore para outros, é mesmo isso no fundo que cá viemos fazer. Trabalhar e dar à luz mais seres trabalhadores.
Trabalhar não é a pior coisa do mundo. Há dores, até regulares, bem menos suportáveis do que isso. O problema é que calhou-nos a nós, por mero efeito aleatório na geografia, trabalhar aqui, em Portugal.
Vá, trabalhar é um bocado chato. Receber salários de merda como recebemos é estúpido e se formos bem a ver, uma falta de respeito aos nossos pais, que tanto gastaram para nos colocar bonitinhos naquela classe média dos jovens com aspirações. Podemos sempre justificar-nos com Isto está tudo mal, mas muitos de nós sabemos bem que jogamos mal os dados quando nos perguntaram, ainda em tenra idade, o que queríamos fazer para o resto da vida. Éramos novitos. E sinceramente a coisa parece-se até, com o perguntar a um bezerro se quer ir para o prato ou o matadouro. A resposta ideal seria algo como quero é ir estender as pernas para um paraíso tropical e não fazer nenhum. Mas nessa altura nós e os bezerros estamos cheios de sonhos de glória e somos presa fácil. Por isso isto não é uma justificação, é só uma introdução para a verdadeira questão da minha posta.
Ora nós, infelizes pessoas de bem, termos na maior parte das vezes de trabalhar sob as ordens de gente ... cóco. Aliás tenho quase a certeza que metade da população portuguesa com dois dedos de testa, mas sem ser cabeçudos, não pode nem pintado com o seu chefe. E é precisamente por esta pouca profundidade na classificação das chefias que decidi fazer aqui no Mundo Pachanga - além de um blog dedicado ao Sexo e a Cidade e à Bonnie Tyler, um blog de pessoas que sofreram ou sofrem na pele esta fatalidade do destino - o Verdadeiro Dicionário do Trabalhador, obra passível de se tornar um best seller em qualquer casa de banho de estação de serviço por todo o país, e quizá Badajoz e Ayamonte.
Isto dos dicionários tem esta coisa chata de ter de seguir a ordem alfabética. Caguemos nisso por agora. O que eu gostava que chegassem eram histórias, boas histórias, contadas com o exagero narrativo necessário em cada entrada. Dando o mote:
God Almighty - pessoa que manda em tudo e faz por estar junto de quem manda. Queres ir comer, tens de preencher um memo a explicar-lhe a razão da deslocação. Queres dar um peidinho, tens de pedir autorização. Já se for ele a querer alguma coisa, como por exemplo encontrar sobreviventes de Hiroshima em Portugal ou trevos de cinco folhas na avenida da liberdade, isso tem de ser feito na hora, senão arriscas-te a ser enxovalhado numa reunião geral, o que até é bem pior do que ser despedido e nunca mais ter de lhe ver a fronha. Esta necessidade por controlo, está justificada pela perfeita certeza de que não percebe nada do que está a fazer a maior parte do tempo.
Xoninhas - gajo ou gaja sem qualquer personalidade nem ideia própria, que atingiu um cargo de chefia precisamente por isso. É assim uma espécie de Paulo Ferreira da selecção nacional, versão trabalhadora. Nunca diz não ao chefe intermédio, sobretudo porque a ordem é sempre para transmitir a quem está abaixo dele. O que faz com um sorrisinho estúpido de celebração, antes de pegar no seu Ford Escort e ir para a sua casa nos subúrbios e fazer amor com o seu esposo/esposa sempre da mesma maneira e sem tirar as peúgas.
Sem pescoço - esta espécie de chefe está entre o god almighty e o xoninhas. Não é tão básico como o último, mas nunca na vida será o primeiro. Veste sempre fato, porque a gravata ajuda a esconder a falta de atributos físicos e o casaco tapa os vestígios de andar sempre a lamber rabos. Conduz um Audi de cilindrada baixa e por isso está sempre a falar de Audis com cilindradas altas. E de mamas grandes no caso deles. Quanto a elas, a conversa gira pelos filhos perfeitos e a entrada ou não entrada dos filhos perfeitos nos colégios perfeitos, mesmo que tenham acabado de sair da sua pacharola perfeita.
Filha da puta - este sacana é do pior que pode haver. Não olha a meios e fins para lá chegar. E quando chega continua a treinar a arte da maldade para o dia em que atingir um verdadeiro cargo de poder. Na maior parte das vezes não tem as capacidades para gerir uma equipa na área onde está, nem em nenhuma outra, mas é um mestre a usar e abusar das informações que lhe chegam, sobretudo devido às suas ligações com um partido político.
- Gostava tanto que contribuissem com verve fresquinha e cheia de raivinha. Como a minha amiga Ana:
AC/DC - traduzido à letra é síndrome antes de ser chefe/depois de ser chefe. normalmente é atribuído a pessoas que antes de chegarem a essa categoria são uma muito críticas em relação ao comando e às estratégias da empresa - vulgos revolucionários de sofá. Mas em passando para o lado de lá é vê-los subscrever e acatar tudo aquilo contra o qual se tinham insurgido na era AC.
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