Sim, eu confesso-me aqui viciada em séries televisivas. Desde os nove anos de devoção aos X-Files, ao sofrimento pela dose semanal de Lost, passando por saber quase todos os momentos pela ordem certa de seis séries de Sex and the City, o entretenimento norte-americano em forma de seriado tem nesta pachanga uma recipiente ferverosa.
Nas últimas semanas deram-me para as mãos um objecto que confesso não me convenceu na sua passagem pela RTP2, agora repetida em dose diária a uma hora considerável do início da madrugada. Mas vinha tão bem cotada a coisa que fiquei curiosa e comecei a ver o pilot por piada. Ia a meio do primeiro episódio e já tinha percebido que mais uma vez deixamo-nos levar muito facilmente por ideias pré-concebidas. A verdade é que estou a falar de L Word. A polémica série que trazia o redutor carimbo de ser uma série sobre mulheres gays. Depois de três epis já estava completamente agarrada, porque afinal trata-se duma série sobre mulheres. Sobre as suas paixões, os desapontamentos, os medos, os sentimentos. Com um grupo de actrizes cheio de química entre elas e, para bem do excelente texto, não apenas da física. Não tem o humor de Sexo e a Cidade, mas tem a mesma mensagem mordaz de que a mulher hoje em dia quer-se liberta e segura de si e das suas convicções, opiniões e sobretudo escolhas.
Dramática na sua essência, para mim atingiu o limite da tristeza na terceira e até agora última época (a 4ª começa em Janeiro nos E.U.). Não sendo o trama central, uma das personagens, a minha preferida devo confessar, bate-se com um dos nossos maiores medos como mulher, aquele que mais mata em conjunto com o da pele. Sim, estou a falar do cancro da mama. A maneira fria e por vezes chocante com que tratam todo o processo de diagnóstico, operatório e de tratamento, trouxe-lhe tanto realismo que dei por mim a tremer com a imagem daquilo acontecer dentro da minha família ou grupo de amigas.
Posso mesmo desde já dizer, que não sendo eu muito dada ao choro provocado por imagens ficcionadas, os epis Lifeline, Lifesize, Lone Star, Losing the Light e Lest we forget(3/6,7,8,10,11) com toda a carga simbólica incluída no título, foram das coisas que mais me marcaram nos últimos tempos. Esta música é de um dos seus momentos. E a coisa não acaba bem. Mesmo nada bem.
A todas as mulheres do mundo que sofrem directa ou indirectamente desta doença do demo, vai um abraço e um beijo gigante desta anónima abalada por mais uma vez compreender que a realidade está sempre na e para além da ficção.
PS: Desculpem o tema menos feliz da coisa. Eu prometo próximos posts bem mais alegres e fúteis.