Passo demasiado tempo em aeroportos, estes últimos meses. Antes tinha a mania de dizer que gostava de aeroportos e tal, que era giro ver as pessoas, uma coisa love actually, com a música dos Beach Boys e tudo.
Nego. Não gosto de aeroportos. Para além de termos de chegar mil horas antes do voo, temos de ser apalpadas por senhoras de luvas de borracha (fico logo com medo que elas se decidam a fazer-me algum exame do foro ginecológico). Temos de estar em filas. Temos de por os nossos pertences em tabuleiros. Tirar o casaco, tirar os sapatos, voltar atrás e deixar as moedas que tinhamos nos bolsos, porque apitámos. Voltar a passar. Ter um senhor que mexe nas nossa mala e vasculha, entre pensos higiénicos e lenços de papel ranhosos que guardo religiosamente.
O aeroporto de Lisboa é fixe. Dá para fumar umas cigarretas na rua, não é longe da porta onde costumo embarcar. Ainda me lembro com saudade dos tempos maravilhosos e felizes que passei no Astrolábio a fumar portugueses suaves gostosos e a degustar uma bica. Tempos que lá vâo. Agora menos 99835734573857578 pessoas vão ter doenças pulmonares por não se poder fumar no aeroporto, devido à ajuizada medida europeia.
A semana passada fui parar ao aeroporto de Munique, porque não havia voo directo para esta terra do capeta. Uma coisa espectacular. Clean, zen, minimalista. Branco por todo o lado. Arejado, moderno, luminoso e outros adjectivos que tais. No terminal da Lufthansa, o café e chá são de borla, coisa de uma civilização superior. Os alemães, para além de saberem fazer salsichas e cerveja e quiçá holocaustozinhos, são uma gente gira.
Nicotina!, pedia meu corpo sensual. Fui em busca de um local para matar o vício e deparo-me com uma casinha, feita em vidro, no meio do terminal, com cerca de 5 metros quadrados, onde se apinhavam 87 pessoas, esfumaçando. A porta tem de ser fechada rapidamente, quando entramos. O fumo desaparece depressa, sugado por umas maquinetas que fazem um barulho do cacete. Mas o cheiro está lá. Uma coisa horrível, decadente. Pessoas sozinhas com o seu cigarro, fumando de enfiada um tubinho. Uma coisa terceiro mundista, pensei eu. De facto, é dictatorial até, enfiar uma imensa maioria de pessoas boas, que por acaso fumam, num cabrão de um espaço mínimo. Via-se nos olhos dos homens e mulheres que lá estavam a vergonha de estar ali. Uma coisa quase de agarrados ao cavalo, uma doença social, uma lepra dos tempos modernos. Por momentos (nanosegundos até) pensei em deixar de fumar. Depois saí e fui para o hall branco e luminoso, onde o café era de borla. O espiríto zen alemão encheu-me o espírito, pouco depois de eu ter enchido meu pulmão de nicotina. Depois escrevi uma reclamação e coloquei-a na caixinha de sugestões.
"You should have free sausages too".